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Aprendizagem

O que é necessário perceber para aprender a ler e a escrever?

As crianças necessitam de compreender o sistema alfabético para aprenderem a ler e a escrever. No caso da língua portuguesa, esta tarefa nem sempre é linear, implicando capacidade de reflexão por parte dos aprendizes.


O que é o sistema alfabético?

 
Para aprenderem a ler e a escrever, as crianças têm de compreender como é que o sistema de escrita codifica a linguagem. No caso da língua portuguesa escrita, que utiliza o sistema alfabético, aquilo que é codificado são os sons da fala (fonemas), que são representados por letras (grafemas).


Embora esta explicação possa ser aparentemente básica, na verdade não é tão simples como parece. Na maioria das escritas alfabéticas, o número de fonemas é superior ao número de letras do alfabeto e nem sempre as correspondências são lineares: uma mesma letra pode corresponder a diferentes fonemas e um mesmo fonema a diversas letras ou conjuntos de letras.


Assim, a complexidade de ortografia depende, nomeadamente, do nível de correspondência entre os sons e as letras, existindo ortografias transparentes, nas quais essas correspondências são consistentes, e ortografias opacas, nas quais essas correspondências são inconsistentes, ou seja, complexas e muitas vezes imprevisíveis.


De acordo com esta distinção, ao nível da leitura o português situa-se numa posição intermédia, sendo considerado semi-transparente. No entanto, na escrita verificam-se mais irregularidades do que na leitura, o que torna mais complexa a sua aprendizagem. Assim, ao nível da escrita o sistema português é considerado mais opaco.


No seu alfabeto, existiam tradicionalmente 23 letras, 5 vogais e 18 consoantes, às quais foram acrescentadas 3 consoantes, com a entrada em vigor do novo acordo ortográfico. Acontece que o número de letras do alfabeto é inferior ao número de fonemas utilizados, e se existem correspondências lineares entre determinados fonemas e grafemas, também se verificam algumas inconsistências ortográficas, desde o momento em que existem grafemas que podem corresponder a vários fonemas, bem como fonemas que podem corresponder a diferentes grafemas.

A correspondência entre a linguagem escrita e a oral é sempre linear?


Uma das dificuldades que se coloca às crianças que estão a aprender a ler e a escrever deve-se à complexidade das regras que ligam a linguagem escrita à fala. Enquanto num sistema alfabético puro a cada fonema corresponde uma letra, no sistema de escrita português essa correspondência nem sempre é linear, na medida em que nem sempre a um mesmo fonema corresponde a mesma letra e vice-versa, tal como se constata nos seguintes exemplos:

 
• Grafemas que podem corresponder a vários fonemas (leitura):


- cobra / cedo
- gato / gelo
- casa /sopa
- exame / xarope / próximo
- pedra / menina / medo
- boca / foca

• Fonemas que podem corresponder a vários grafemas (escrita):


- copo / quilo
- galo / guerra
- roda / carro
- xilofone / chuva
- jeito / gelo
- casa / rezar / exame

Algumas destas correspondências estão sujeitas a regras ortográficas, o que ajuda à sua sistematização, como por exemplo no caso de galo e guerra: usa-se o g antes do a, do o e do u; e o gu antes do e e do i.


Já o exemplo de jeito e de gelo é mais complexo, uma vez que jeito é uma exceção que, como as restantes exceções, tem de ser memorizada. E isso só se consegue lendo muito, de modo a conhecer e a fixar as exceções às regras ortográficas.

Porque é que os nomes das letras nem sempre ajudam?

 
Também não é fácil para as crianças perceberem que os nomes das letras nem sempre correspondem aos sons que representam. Na língua portuguesa, os nomes das letras geralmente contêm um dos sons que representam, mas não contemplam todas as possibilidades.

 
Por exemplo, a letra s contém o som s, mas não o som z, que também pode representar. A letra g contém o som g, mas não o j que pode representar quando colocado antes do e e do i. Já para não falar na letra x, que tanto faz parte da palavra peixe como das palavras existir, próximo ou táxi.

 
Assim, os nomes das letras nem sempre podem servir de auxiliares de memória para os sons que representam

É sempre fácil distinguir as letras?


No sistema alfabético, os sons da fala são representados por letras, que são formas relativamente simples, em que a orientação constitui um dos aspetos mais importantes para as distinguir. Para aprenderem a ler, as crianças precisam de ser capazes de distinguir as várias letras e, para tal, têm de perceber quais as diferenças relevantes e as diferenças redundantes entre estas.

 
Por exemplo, entre um A maiúsculo e um a minúsculo há diferenças significativas do ponto de vista percetivo e, no entanto, trata-se da mesma letra. Já entre um b e um d há poucas diferenças a nível percetivo, apesar de serem letras distintas, o que para algumas crianças representa um maior desafio.

Como é que a escrita é ordenada?


Uma outra questão que as crianças têm de entender é a forma como as unidades da fala são ordenadas na escrita. Na língua portuguesa, esta ordenação espacial é linear, realizando-se da esquerda para a direita e de cima para baixo, sendo deixados espaços entre as palavras.


Bibliografia:


Alves Martins, M. (2022). Aprendizagem da ortografia in Ensino da Leitura e da Escrita baseado Evidências. Fundação Belmiro de Azevedo;


Alves Martins, M. (2000). Pré-História da Aprendizagem da Leitura. Ispa.

O que é necessário perceber para aprender a ler e a escrever?